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Parasitoses de Nematoda

Filipe Santos

Atualizado: 24 de abr. de 2019

Em suma, se toda a matéria do universo exceto os nemátodos fosse varrida da existência, nosso mundo ainda seria vagamente reconhecível, e se, como espíritos desencarnados pudéssemos investigá-lo, encontraríamos montanhas, colinas, vales, rios, lagos e oceanos delineados por um filme de nemátodos. A localidade das cidades seria decifrável, uma vez que para toda massa de seres humanos existiria uma certa massa correspondente de nematodes. Árvores seriam postes fantasmagóricos enfileirados representando nossas ruas e rodovias. A localização de varias plantas e animais ainda seria decifrável, e, se tivéssemos conhecimento suficiente, em muitos casos até mesmo sua espécie seria determinada pela examinação dos nematodes outrora parasitas.           Nathan Cobb, 1915. Enxerto de "Nematodes and their relationships" Tradução livre

Terrestres, dulciaquícolas ou marinhos, os nematodes possuem ampla diversidade de hábito de vida podendo ser observados nos mais diversos solos e até mesmo no plâncton, e apesar da maioria ter vida livre, são notáveis parasitas que provocam males como: ascaridíase, tricuríase, ancilostomíase, estrongiloidíase ou teníase, doenças que são comuns nas regiões interioranas e mais pobres do Brasil.


"Jeca tatuzinho" andando descalço e sofrendo contágio de amarelão, Museu mazzaropi.

Conhecido pelo conto de “Jeca tatu”, de Monteiro Lobato, o jargão amarelão refere-se a ancilostomíase: patologia causada pelos nematódeos Ancylostoma duodenale e Necator americanus que causa empalidecimento e anemia tornando a pessoa “amarelada”, e já chegou a acometer cerca de 428 milhões de pessoas no mundo por ano (GBD, 2015). Hoje a OMS estima que 36% da população brasileira está afectada por alguma parasitose helmíntica, número que em comunidades ribeirinhas (SILVA, 2014) e periféricas (FERREIRA, 1991) chega a mais de 50% da população, o aumento da incidência está relacionado principalmente ao saneamento básico e hábitos preventivos, uma vez que o ciclo de vida desses organismos tem fase nas excretas humanas e animais. A incidência de infecção por nematoides marinhos em humanos tem peixes como hospedeiros paratênicos, o contágio é dado se consumidos crus ou processados incorretamente, contudo existem poucos registros de ocorrência no Brasil (TAIRA, 2011). É o principal grupo de parasitas aquícolas e as zoonoses mais propensas as espécies brasileiras de interesse comercial é a anisaquíase e estrongiloidíase. É preocupante para empreendimentos aquicultores pois os sintomas histopatológicos como a obstrução intestinal, hiperemia e edemas estressam o animal, prejudicando sua alimentação e crescimento além de comprometer a saúde alimentar do consumidor (LUQUE, 2004).


Existem variados ciclos evolutivos e reprodutivos de nematóides parasitas, para a compreensão de seus ciclos são definidas fases a partir do processo de ecdise das larvas pois cada muda é realizada em um novo hospedeiro. Algumas espécies realizam autofecundação dentro da cavidade gastrointestinal, passando por todas as fases larvais dentro do hospedeiro definitivo. No ambiente marinho, mamíferos aquáticos como pinípedes, golfinhos e baleias são os principais hospedeiros definitivos. O animal se fixa em determinado órgão até atingir maturidade para se reproduzir, se o ser humano é acidentalmente parasitado sua reprodução é interrompida, pois o nematelminto não irá conseguir atingir hospedeiros intermediários como: moluscos, crustáceos e peixe (TAIRA, 2011) (LUQUE, 2004).

A seguir, a comparação do ciclo evolutivo de alguns gêneros:

Ancylostoma spp. (causa amarelão): Helminto terrestre, que contamina bovinos e suínos, além do humano. No intestino, se fixam no ceco utilizando o aparato bucal e esofago musculoso permanecendo ali até a liberação dos ovos, que são excretados durante a evacuação. A primeira muda é realizada no solo, a larva eclode e cresce no solo. Na segunda muda, o ancylostoma busca algum organismo, penetrando a pele e caindo na circulação sanguínea, se alojam no coração e pulmão. Após a terceira muda, migram até a traquéia buscando seguir até o intestino, se ingeridas com a saliva completam o ciclo se fixando no ceco intestinal.

Anisakis spp. (causam Anisaquíase): Exclusivamente marinha, os principais hospedeiros são o bacalhau, Gadus spp., e Arenques, Clupea spp., mas já foi descrito em outros peixes e moluscos comerciais do Brasil como merluza, Merluccius spp., corvina, Micropogonias spp., e camarão e lula. Houve descrições de larvas de anisakis spp. no litoral sudeste e nenhum diagnóstico de anisaquíase em humanos, são comuns registros da doença na Europa, Japão e nos Estados Unidos, 90% dos casos foram registrados no Japão onde 2000 são diagnosticadas anualmente com anisaquíase (HUSS, 2003 apud TAIRA, 2001) (ANDERSON, 2000 apud CARDIA et BRESCIANI, 2012)(MOLENTO, 2017). O organismo sexualmente maduro se alojar na parede mucosa do estômago, intestino ou fígado, seus ovos são liberados junto às fezes do mamífero e eclodem na coluna d'água. A ecdise é feita após a ingestão da larva por um crustáceo ou molusco, esse estágio larval é infectante de mamíferos e peixes. FIGURA 01 - CDC DPDx, 2015

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Eustrongylides spp. (causam Estrongiloidíase): Ocorre em água continental, salobra e marinha, o hospedeiro final são aves piscívoras. Utiliza do mesmo processo de alojamento nas mucosas gastrointestinais na fase adulta, também sendo encontrado na musculatura esquelética, vesícula biliar, bexiga natatória ou fígado durante o estágio larval. O primeiro hospedeiro são oligoquetos, a seguir peixes pequenos, anfíbios e répteis podem ser hospedeiros transportadores a aves ictiofagas. Apenas 5 diagnósticos confirmados em humanos, em um dos casos o tratamento clínico foi possível e eficaz (TAIRA, 2011)(FDA, 2009c apud TAIRA,2011).

FIGURA 02 - CDC DPDx apud TAVARES

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O alto sucesso evolutivo dos nematoda é observado na diversidade de espécies, tem participação generalizada dos níveis tróficos: plantas à predadores topo de cadeia sofrem com parasitoses helmínticas, e apesar de diagnósticos revelarem sintomas histopatológicos graves que originam dores agudas, anemia e sangramentos, indivíduos portam helmintos sem grandes indícios de problemas de saúde, tendo um diagnóstico tardio apenas quando o verme está liberando os ovos e perpetuando seu ciclo.


REFERÊNCIAS:


MOLENTO, Marcelo Beltrão et al. ANÁLISE DO PARASITISMO POR NEMATÓIDES DA FAMÍLIA ANISAKIDAE EM PEIXES MARINHOS PROVENIENTES DO LITORAL PARANAENSE, BRASIL. Archives of Veterinary Science, [S.l.], v. 22, n. 1, jul. 2017. ISSN 1517-784X. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/veterinary/article/view/49140>. Acesso em: 17 abr. 2019. doi:http://dx.doi.org/10.5380/avs.v22i1.49140.


SILVA, Adriane Maria Bezerra da et al . Ocorrência de enteroparasitoses em comunidades ribeirinhas do Município de Igarapé Miri, Estado do Pará, Brasil. Rev Pan-Amaz Saude, Ananindeua , v. 5, n. 4, p. 45-51, dez. 2014 . Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-62232014000400006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 abr. 2019.

FERREIRA, Cláudio Santos; FERREIRA, Marcelo Urbano; NOGUEIRA, Marcos Roberto. Prevalência e intensidade de infecção por Ascaris lumbricoides em amostra populacional urbana (São Paulo, SP). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 7, n. 1, p. 82-89, Mar. 1991 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000100007&lng=en&nrm=iso>. access on 18 Apr. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1991000100007.


ACOSTA, AA., et al. Aspectos parasitológicos dos peixes. In: SILVA, RJ., orgs. Integridade ambiental da represa de Jurumirim: ictiofauna e relações ecológicas [online]. São Paulo: Editora UNESP, 2016, pp. 115-192. ISBN 978-85-6833-478-2. Available from: doi: 10.7476/9788568334782. Also available in ePUB from: http://books.scielo.org/id/tp2xy/epub/silva-9788568334782.epub.


LUQUE, José Luis. Biologia, epidemiologia de parasitos de peixe. Rev. Bras. Parasitol.Vet., v.13, suplemento 1, 2004. Disponível em <http://www.ufrrj.br/laboratorio/parasitologia/arquivos/publicacao/48_LIVRO.pdf> Imagem “O jeca”, Museu mazzaropi. Disponível em <https://museumazzaropi.org.br/jeca-tatuzinho-integra-se-ao-acervo-do-museu-mazzaropi/>

FIGURA 01. CDC, Centers for disease control and prevention. DPDx, Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern, Anisakiasis life cycle. Dísponível em <https://www.cdc.gov/parasites/anisakiasis/biology.html>


FIGURA 02. CDC, Centers for disease control and prevention. DPDx, Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern. TAVARES. Disponível em <https://www.researchgate.net/figure/Figura-3-Ciclo-de-vida-Capillaria-philippinensis-Fonte-adaptado-DPDX_fig2_236247487>

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